quarta-feira, 30 de março de 2011

Meu humor e seus transtornos

 Eis, para inaugurar o blog O Pseudo-Intelectual, uma crônica sobre THB (Transtorno de Humor Bipolar), escrita por um bipolar.
 
Seres como eu, sem nenhuma noção de racionalidade, sofrem. Sofrem demais. Não porque são tristes, ou depressivos ou inseguros, mas porque estão sempre sentindo alguma coisa, ou tudo ao mesmo tempo. Existem momentos no dia de um bipolar em que ele entra em colapso emocional por não suportar passar por tantas variações de humor num mesmo dia. Ele não sabe o que sente, ele não sabe o que faz, ele não sabe quem é. E ainda por cima é exagerado.
Eu mesmo sou um caso difícil. Difícil para minha família, para os meus amigos e principalmente para mim mesmo. Juro para vocês que eu tento controlar meus humores, mas eles vêm, simplesmente chegam tomando conta de mim. Há poucos instantes atrás, passei, em menos de cinco minutos da melancolia à raiva e em seguida depressão. Mais rápido que caminhar até a padaria! Não perguntem como, nem por que, pois não existem motivos para estas mudanças, não existem justificativas. Pelo menos, não para mim.
Deixando a modéstia de lado, sou um bom músico e um bom escritor. O problema é que não escrevi nenhum livro até agora e nem gravei meu disco que tanto trabalho tive para compor. Neste exato instante, meio que desisti de ser escritor e músico, mas daqui a cinco minutinhos estarei trabalhando de novo em mais um grande livro e outro disco fabuloso. Quando, eu não sei. Não verdade eu nunca sei. De repente eu sinto vontade de ser músico, outra hora um poeta, outra hora um novelista, outra hora um cantor lírico, outra hora um monge...
Muitas são as minhas vontades, mas são efêmeras. Desnecessário dizer que não estou em nenhuma universidade, porque não sei que curso fazer, e nem tenho emprego, porque sei fazer muita coisa e nada ao mesmo tempo. Passo meus dias acumulando muito conhecimento e nenhuma grana. Se não fosse mamãe, morreria de fome. Às vezes penso que é preguiça de lidar com o trabalho duro, mas pode ser também a minha instabilidade emocional e mental que me faça ficar parado e sem rumo.
O Rafael me joga uns verdes de vez em quando, que é para eu conseguir emprego e tudo mais, e acho bacana da parte dele. Assim como acho bacana quando ele me dá feedback daquilo que escrevo e componho. Entretanto, sempre quando o feedback é negativo, dispara em mim um mecanismo de defesa ou algo do tipo. Faíscas tomam minha mente, e uma tempestade de dúvidas e incertezas se instaura. É geralmente aí que o projeto acaba abandonado no meio.
As palavras medo, incerteza, dúvida e não sei são constantes no meu vocabulário. E não é para menos. Vivo numa corda-bamba, que dança sobre o picadeiro da morte. Estou sempre pendendo, a estabilidade é algo muito raro na minha vida. Enquanto na minha condição de indivíduo com Transtorno de Humor Bipolar, sempre terei medo. Muito medo do que faço, do que sinto, do que falo... Simplesmente porque sei que não estou no controle de mim mesmo, sei que a qualquer momento meu rumo vai mudar, e nem vou saber ao certo se queria mesmo que mudasse.
Os momentos em que tudo se confunde são insuportáveis. Não é para menos que bipolares têm tendências suicidas. Às vezes parece a morte a melhor saída para aliviar este tormento, o tormento de não estar no comando de si próprio. Se tem uma única coisa que não muda dentro de mim é uma vontade. A vontade de um rumo certo. Ou, pelo menos, não tão incerto quanto o que estou tomando.

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