quinta-feira, 2 de maio de 2013

Bois-de-piranha

"Boi-de-piranha" é aquela cabeça de gado mais magra e mais frágil, posta à frente da manada para atravessar uma área banhada  que contenha piranhas, atraindo-as para longe do resto do gado. Sempre que vejo manchetes muito repetidas na mídia, lembro dessa expressão. Vejo que a mídia anda atirando na nossa frente muitos bois que nós, como piranhas, devoramos ensandecidos.
Olhemos para Marco Feliciano. Sua postura indignante e duvidosa atrai nossa atenção com tamanho magnetismo que nossos olhos passam a perder a visão periférica. O atentado em Boston, em plena maratona, e a captura e morte dos terroristas (meninos ainda)... Posso lembrar de muitos episódios parecidos, e quase sempre algo acontece enquanto ninguém está olhando.
Quantos projetos de lei absurdos (geralmente beneficiando os poderosos no geral) foram votados enquanto um incêndio ocorria em uma boate, ou quando um pastor falava de famosos assassinados em Cristo, ou quando uma bomba explodiu em qualquer lugar do mundo?
Minha proposta neste texto curto é a seguinte: o boi magro é fácil de pegar, mas o gado mais gordo está mais longe da visão. A mídia delicia nosso sadismo com notícias esdrúxulas, mas fiquemos atentos para o que está acontecendo por trás do incêndio, do pastor ou da bomba.

domingo, 29 de janeiro de 2012

Alô, OIADH

Vídeo - O massacre de Pinheirinho - A verdade não mora ao lado

Petição pública - Manifesto pela denúncia do caso Pinheirinho
 
À Organização Interamericana de Direitos Humanos

Wilson Correia*

A Justiça de São José dos Campos, por meio da juíza Márcia Faria Mathey Loureiro, da 6ª Vara Cível, determinou a desocupação das famílias que residem, há, pelo menos, cinco anos, no terreno do Pinheirinho, zona rural de São José dos Campos, a 97 quilômetros da capital paulista –despejo que se encontra em plena execução.

A área é uma propriedade falida de Naji Nahas, doleiro bastante conhecido entre nós, sobretudo por conta das sucessivas condenações que ele recebeu por parte da justiça brasileira. Aproximadamente, 1.600 (um mil e seiscentas) famílias e cerca de 5.500 (cinco mil e quinhentas) pessoas viviam em Pinheirinho, que compreende mais de 1 (um) milhão de metros quadrados.

O governador do Estado, Geraldo Alckmin, e o prefeito de São José dos Campos, Eduardo Cury, ambos do Partido da Social Democracia (PSDB) envidaram todos os esforços para que o braço repressivo do Estado e do Município, por meio de força policial fortemente armada (dez mil homens, munidos de gás de pimenta, balas de borracha, cassetetes, máquinas, viaturas, helicópteros, entre outros), realizassem a desocupação.

Sobre essa desocupação brutal e desumana, várias personalidades têm se manifestado, como segue:

Política do coturno paulista em prol do capital: "Vence mais uma vez a política do coturno em prol do capital. E o governo do Estado lavou as mãos sobre o caso" (Marco Dutra e Juliana Rojas, cineastas).

Há direitos que não podem ser simplesmente estilhaçados: “Você não pode simplesmente botar o trator e desrespeitar os direitos adquiridos a partir do princípio da função social da residência. A ocupação do Pinheirinho começou em 2004. Isso significa que cinco anos já se passaram e muitas pessoas que estão ali já estão estabelecidas. Pelo que tenho lido, está havendo uma violação clara do direito à habitação, que inclui o direito de não ser desalojado forçosamente. Está havendo uma violação drástica do princípio de habitação adequada. Além disso, a ação de desalojo ocorreu no domingo --você não faz uma ação dessas no domingo, tem de haver uma participação da comunidade. Mesmo sendo uma decisão da Justiça, ela tem de ser aplicada de forma humana. O Estado tem um dever para com essas pessoas e deve reconhecer que possuem direitos como cidadãos brasileiros. Pelo que eu vi, isso não está acontecendo” (Cláudio Acioly, Coordenador do Programa das Nações Unidas para o Direito à Habitação e Chefe de Política Habitacional da ONU-Habitat).

Autoridades são impedidas de acessarem Pinheirinho: “Nós pedimos para verificar o local da desocupação para saber se estava ocorrendo algum tipo de violência, desrespeito aos direitos das pessoas. Infelizmente, não nos foi permitido ter acesso ao local. Além disso, a Prefeitura não permitiu que entrássemos nas tendas que ela armou para saber em que condições as pessoas estavam sendo abrigadas” (Carlinhos Almeida, deputado federal, sobre a tentativa de Paulo Teixeira, deputado federal, Marco Aurélio de Souza, deputado estadual, e vereadores do Partido dos Trabalhadores –PT de vistoriarem Pinheirinho).

Até autoridades têm sido vítimas da violência do coturno paulista: "Ele [Maldos] mostra a carteirinha, a identidade de funcionário público federal, e os guardas o desrespeitam e metem uma bala de borracha nele." (Gilberto de Carvalho, Secretário Geral da Presidência da República do Brasil, a respeito de um tiro de borracha que Paulo Maldus, Secretário Nacional de Articulação Social da Secretaria-Geral da Presidência recebeu em Pinheirinho).

Excessos são denunciados: “As imagens demonstram excessiva violência e, independentemente de ter ocorrido morte, ou não, a postura da polícia e do governo [estadual] está incorreta” (Aristeu Neto, Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil).

É caso para a OIADM: “A expulsão violenta de 1.500 famílias da área rural que ocupavam há 5 anos em Pinheirinho (SP) deveria ser denunciada à Comissão Interamericana de Direitos Humanos. É vergonhoso, para dizer o mínimo, que os direitos fundamentais à moradia e ao trabalho de tantas pessoas, declarados expressamente na Constituição Federal, sejam preteridos, por aberrante decisão judicial, em prol da satisfação dos interesses pecuniários de credores de uma massa falida” (Fábio Konder Comparato, jurista e professor).

Que a cidadania se manifeste: “Todas as pessoas e entidades comprometidas com os direitos humanos têm agora o imperativo moral de agir para denunciar o Estado perante a Comissão Interamericana de Direitos Humanos” (Márcio Sotelo Felippe, ex-procurador do Estado de São Paulo).

Por entender que quando a cidadania se cala os governantes desalmados mandam bala, estou enviando a presente mensagem, a qual, espero, seja analisada segundo as exigências da gravidade do caso.

Recôncavo da Bahia, Brasil, 24 de janeiro de 2012.

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*Professor Adjunto de Filosofia da Educação no Centro de Formação de Professores da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia.

sábado, 1 de outubro de 2011

"Pelo amor das vacas!" Alarde na comunidade vegetariana

 Ver também: O Pseudo-intelectual - Vegans e respeito às diferenças

A "milícia vegetariana" grita por justiça. Um "carnívoro do mal" ataca covardemente seu orgulho de comer salada com esta imagem:


Prontamente os "cavaleiros da justiça animal" respondem:


Ok... Agora que porra foi essa
Cá para nós, o vegetarianismo parece estar em voga com bastante força. Cada vez mais pessoas estão aderindo ao movimento, seja pela justiça animal, por questões religiosas ou por mudança de hábitos alimentares voluntária. 9% da população brasileira é vegetariana, o que dá um bom número. Para os que ainda não sabem, os vegetarianos eliminam do cardápio todo tipo de carne (bovina, suína, de aves e de peixes). Alguns consomem ovo, leite e seus derivados, enquanto outros eliminam o ovo da dieta. Os vegans vão além. Não comem nada que seja de origem animal e nem usam qualquer produto que tenha em sua composição qualquer coisa de origem animal, tampouco usam produtos testados em animais.
Perfeito, com as coisas esclarecidas, vamos ao fato mostrado acima. Um belo dia vi a primeira imagem, ri do "coma pedras" (lembrando de uma amiga que falava que comia até pedra) e descartei da mente. Pouco depois, começaram a pipocar inúmeras imagens em resposta, como a segunda, e abaixo delas sempre mais de 20 ou 30 comentários no Facebook, muitos deles furiosos com a primeira imagem, dando a entender que o autor era um criminoso digno de pena de morte. Alguns desses vegetarianos chegavam a falar que "na Nova Era ninguém mais vai comer carne, e os 'carnívoros' vão estar fodidos", quase como se os vegetarianos fossem jedis e os que consomem carne fossem o lado negro da força.
Todo esse alarde por causa de uma piada...
O primeiro problema da internet é que nela qualquer merda vira motivo de discussão ou polêmica, pela (falsa) liberdade que estar atrás de um monitor e um teclado dá ao indivíduo. É uma sensação boa a de poder falar o que quiser nas redes sociais, mesmo que seja uma tremenda estupidez, e sair ileso (no máximo com um orgulho ferido, talvez). Foi mais ou menos isso que começou esta babaquice em larga escala. Um zé-mané qualquer resolveu, de trás de sua fortaleza virtual, fazer uma piada para provocar a população vegetariana. E o mais triste é que conseguiu.
Vejo crianças brigando para provar que seu brinquedo é o melhor. Vejo pessoas verdadeiramente infantis incapazes de levar uma piada na esportiva. E vejo crianças mal-criadas não respeitando o ponto de vista do outro. Os que comem carne parecem achar ridículo que uma pessoa não o faça, por questões várias de acordo com cada um, e os vegetarianos não sabem manter a compostura ante uma piada, seja ela de mau-gosto ou não. Um precisou bater no orgulho do outro, e outro teve de responder à altura, esquecendo-se que responder à altura é, muitas vezes, rebaixar-se ao nível dos menos sensatos.
Existe uma tendência a impor um ponto de vista como a verdade absoluta. Não é diferente com esses vegetarianos que responderam da forma que responderam. Claro que existe a causa animal, que existem industrias produtoras pecuárias ganaciosas que abusam dos animais, claro que existe desmatamento fomentando pastagens para a criação de gado... São problemas sérios, de fato. Porém, agir como se quem consome carne fosse tão assassino e crimonoso quanto os que cometem tais crimes é generalizar, caluniar e semear discórdia. Para começar, perder a compostura por causa de uma piada é um grave sinal de imaturidade. Por mais que algo fira seus ideais, o importante é captar o que a pessoa realmente quer dizer com aquilo. Se foi dito somente para provocar, a melhor resposta é, de longe por anos-luz, ignorar
A segunda imagem diz: "Pense | Amadureça | Evolua". Falaram o que falaram sem lembrar que é necessário, antes, ser o exemplo. Na minha humilde opinião, quem se entrega à raiva não pensa, quem quer impor sua vontade não é maduro e quem só vê um lado do prisma não evolui.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Dias de orgulho

 Link externo:
 
Um amigo meu (gay, diga-se de passagem, só pra deixar isso claro do início) ficou abismado com a aprovação do projeto de lei que inclui o “Dia do Orgulho Hétero” no calendário oficial da cidade de São Paulo. Diz ele: “a coisa mais imbecil do mundo”. Fiquei espantado no início ao ler este comentário, e resolvi garimpar a nuvem para saber mais. Descobri que a crítica se referia ao terceiro domingo de dezembro, que será oficialmente o Dia do Orgulho Hétero.
Bem, meu amigo não foi o único que reclamou. Praticamente toda a comunidade gay e seus simpatizantes estão botando a boca no trombone sobre o assunto, dizendo as mais variadas imprecações e críticas no Twitter e no Facebook. Os héteros de plantão estão vibrando (imaginar a cena me dá certo nojo, pra falar a verdade), e o Orgulho Hétero está em voga. Virou uma briga gigante, ambos os lados (hétero e gay) se fuzilando de formas indizíveis...
Fico aqui querendo falar com os dois lados. Aos gays: não liguem pra isso... É uma estupidez, sim. Chega a ter tom de brincadeira, por isso toquem o “foda-se”. Ninguém ganhou nada revidando a uma provocação. Ao héteros: pra quê? Desde quando hétero sofre preconceito por ser hétero? Nunca me barraram em lugar nenhum, nem fui agredido por gostar de mulher.
Agora, aos dois lados: “Orgulho é entulho”. É o lixo do ego que se acumula formando uma armadura que te impede de ver o outro, causa de uma boa parte das brigas e guerras que rolam no mundo. Gays ficam dizendo que os héteros são monstros que pegam no pé deles, e criam um dia para se refestelar no lixo do ego. Agora os héteros, para revidar, não bastasse que já têm lixo de sobra, criam um dia para se refestelar também. Eu apagaria do calendário “Dia-de-Orgulho-disso” e “Consciência-daquilo” e marcaria em todos dos dias do calendário: “Dia da Humildade Humana” e “Dia da Consciência do Outro”.

sábado, 16 de julho de 2011

Sobre viver o espírito

Várias vezes expus minha discordância acerca de muitos fatos espirituais que vejo no mundo, por parte das antigas e das novas consciências espirituais. Algo em mim exigiu uma explicação acerca disso, então resolvi compartilhar a minha idéia de espiritualidade e evolução, ainda que esta seja bastante vaga e sem muita experimentação.
Vejo, escuto e sinto por parte de meus irmãos (e, admito, da minha parte, também) uma forte cobrança pelo contato com a espiritualidade. Muitos de nós lemos, vamos a palestras, cursos, retiros, templos... Aprendemos com todos os mestres que vemos pela frente um montão de coisas sobre como ser mais feliz, como ser uma pessoa melhor, mais tolerante, mais paciente, etc. E sempre indicamos aos nossos irmãos tudo o que fazemos, esperando que ele vá e faça, e em dados momentos até nos desapontamos quando eles não fazem. Pois bem. A busca está acontecendo, mas por fora. É justamente isso que me causa um estranhamento bastante grande sobre a abordagem contemporânea da espiritualidade.
“Aprendei com os grandes”. Parece que só assim vamos alcançar um nível mais elevado de consciência. Pelo que dizemos por aí, somente estudando escritos e ouvindo sacerdotes, sábios e visionários é que encontramos nossa essência. É justamente essa parte que me soa estranha: ouvindo os outros é que nos encontramos? Entendi direito? Espero que não. Porque o que vejo é um monte de gente procurando os livros do momento para ler, os best sellers da consciência espiritual, escritos por gente que sentiu aquilo tudo que se lê na pele. Perdoem-me pela comparação sarcástica, mas são quase como os fás da série Harry Potter correndo atrás do último livro do bruxo inglês.
Claro que temos dois ouvidos para ouvir, o problema é quando nos tornamos dependentes ou quase dependentes do conhecimento adquirido externamente. Acabamos por optar viver o que outros viveram, o que outros viram, sentiram e escutaram ao longo de suas vidas, e nos tornamos frankensteins de conhecimento, com um braço do Dalai Lama, uma perna do Osho e um olho do Deepak Chopra. E posso dizer por mim, irmãos, a frustração é grande quando notamos meio tarde que nós não conseguimos fazer o que eles fazem. E não é por incapacidade, acreditem. Eu creio que seja porque cada um foi feito para viver dados tipos de experiência ao longo da vida, e algo que outros viveram simplesmente não é compatível como nossa maneira de viver.
Acredito com certa força que a espiritualidade deva ser vivencial. Devemos basear a sabedoria e o conhecimento naquilo que se , sente e ouve no mundo ou fora dele. Mas não digo com isso que a experiência da alma deva ser exclusivamente empírica, nem digo que devamos queimar nossos escritos e ignorar nossos mestres. Devemos ler, ouvir e aprender de fato, mas acima disso é necessário vivenciar aquilo que se aprende por fora, e então medir a importância daquilo em nossas vidas. Para não dizerem que nunca li nada ou que tenho certo recalque com os escritos, cito uma passagem de Sidarta de Hermann Hesse, onde Sidarta (o personagem de Hesse) se encontra com Gotama (o Buda) e fala-lhe sobre uma conclusão a que chegou quando ouviu os ensinamentos do Augusto: “... ninguém chega à redenção mediante à doutrina! A pessoa alguma, ó Venerável, poderás comunicar por meio de palavras ou ensinamentos o que se deu contigo na hora da tua iluminação!”. Interpreto disso que somente internalizando-se a si mais do que aos ensinamentos é que encontramos nossa essência mais pura, para então dividi-la e disfrutá-la.
Vivenciar é necessário. A nós cabe pôr o pé na estrada e viver a vida. Encontrar pessoas, concordar, discordar, conciliar, internalizar, meditar, medir, refletir, pensar, matutar... E não desejo que ninguém siga cegamente o que digo, afinal, como já disse, estas palavras, mesmo para mim, ainda são vagas e incertas. Ainda do Sidarta, mais uma citação, frase de Gotama que traduz o que anseio do meu ponto de vista: “Oxalá – disse lentamente o Venerável – que teus pensamentos não sejam erros!”.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Citação do dia!

"As antigas religiões costumam falar que somos pecadores e egoístas, mas que Deus nos ama. As novas 'consciências espirituais' dizem que somos burros e acomodados, mas que estamos a caminho da evolução."
                                                                                          Dieguito Alejandro Muñoz, muchaco!

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Texto reflexivo #1 - Fico pensando...

Fico pensando qual é a desse mundo.
Sabem, eu olho pra todos os lados, e em todos os lados gente que briga, que chora, que discute, que mata ou manda matar, que morre ou quer morrer, que está desamparada, que está sem rumo, que está sem vontade e sem fé... Gente por todo o canto, com a mesma carranca, com as mesmas lágrimas e os mesmos defeitos de sempre.
Fico perguntando: Qual é a deles?
O que os move? O que faz com que estes seres humanos, tão pateticamente frágeis e confusos, lutem com tanta garra para defender princípios, convicções, ideais e causas que nem mesmo eles próprios têm certeza se está certo ou errado? Será que eles percebem que o que estão fazendo é meramente brigar por seus desejos particulares (que por coincidência ou não, se repetem e vários seres humanos, por algum motivo)? Ou eles acreditam mesmo em tudo o que vêem?
Fico perguntando: Onde está o erro?
Será que sabemos o que é pecado? E o que é errado? E será que isso que acreditamos ser justiça na verdade não seria a tirania de alguma coisa maior que a gente? Será que paramos para pensar que as leis, os escritos sagrados, os movimentos, os governos, as religiões, o dinheiro, a política, a ordem, o poder e a sociedade são criações nossas? E lembramos-nos do fato de que somos seres humanos e somos, portanto, falíveis? E será que conseguimos associar nossas criações com nós mesmos, ou seja, será que conseguimos entender que, assim como nós, nossas criações estão sujeitas a falha?
Fico perguntando: por que insistir no erro?
É óbvio que nada disso que estamos vivendo está certo. Está claro que tudo falhou. Nossas criaturas se voltaram contra seus criadores. Não temos mais o controle que jurávamos ter sobre o sistema. Ele se tornou um grande monstro predador. Mais que provado está que a besta é feroz e que vai consumir a todos num piscar de olhos. Não restará um sobrevivente, não sobrará pedra sobre pedra. Isso tudo por termos meramente depositado os sentimentos e energias erradas sobre nossas criaturas. Agora, tudo tornará ao pó.
A menos, é claro, que não acreditemos mais neste monstro.
A menos que nós saibamos de onde ele veio, e que saibamos que não respondemos nós a ele, e sim ele a nós. Basta que deixemos de ter medo, raiva, ódio, insegurança, inveja... Para muitos de nós, racionais e esclarecidos que somos, soa como besteira que a solução seja tão simples. Por isso a maioria não arrisca a sorte. Admito que eu mesmo custo um pouco a acreditar que o sentimento dos nossos corações, nossas crenças e atitudes perante o mundo (como organismo vivo, e não como sistema) possam mudar a face de nosso futuro. Eu mesmo sou um destes seres que se envolvem com o que está em voga no mundo de mentira.
Talvez seja por isso mesmo que eu não queira acreditar mais no monstro.
Costumava falar coisas como: “temos que agir para mudar o país”, “temos que nos preocupar com o que essencial à sociedade”, etc. Pensava algo como: “miremo-nos no exemplo dos franceses – guilhotinaram aqueles que estavam atrasando o desenvolvimento de seu país”.
Hoje tudo isso me soa infundado, sem razão..
Não quero mais acreditar nas “complicadas atitudes que nós enquanto cidadãos temos que tomar para dar rumo à nação e ao mundo”. Por quê? Porque é complicado.
“Ó, mas espera que seja fácil mudar o mundo?”
O que os faz crer que é tão difícil? Seu sistema? Seus políticos? Seu dinheiro? Seus papéis? Sua burocracia? Assim como inventamos da roda ao avião, da religião à ciência e dos reis aos políticos, podemos ser criadores de uma outra realidade. Enquanto estes seres humanos ficam dançando tango sobre seu castelo de areia, eu busco o caminho da simplicidade, da liberdade, da ingenuidade e da mente espiritualizada e limpa.
“Mas você não pode dar as costas ao mundo! Ele está acontecendo à sua volta! Você tem que ganhar dinheiro, tem que comer, tem que se sustentar, tem que pagar suas contas, tem que assinar papéis, declarar seu imposto de renda, assistir ao noticiário, à novela, ao futebol, tem que levar seu filho à escola e à igreja! Por que está dando as costas? Por que está sendo criança? Por que está sendo assim? Por quê?”

Por quê? Por que não ser criança? Por que não ter coragem de dar as costas ao que já não serve mais? Por que não ser assim?

P
OR QUE NÃO?

                        Diego Muñoz

Nenhum revolucionário. Apenas mais um homem.